Dias atrás, certa pessoa detentora de cargo público discursando em propaganda política de seu partido, não vem ao caso seu nome nem legenda, iniciava dizendo que o crescimento de um país não se mede pelo consumo de automóveis e aparelhos domésticos.
É a pura verdade.
Mesmo sabendo que falar é fácil, pois se trata de pessoa com poder público que pode e deve trabalhar para que essa não continue sendo a máscara que encobre a real situação do país.
Quero crer e espero que essa digna representante do povo paulistano esteja trabalhando para mudar essa intenção enganosa. Pois penso que antes de exaltar o consumismo desenfreado que por vezes coloca o consumidor nas “listas negras” do comércio, deveríamos ter, com clareza, informações sobre outros medidores de crescimento, tais como educação, saúde e habitação.
Comprar nunca esteve tão fácil como nos dias de hoje, mas pagar...
Vemos nas propagandas o anúncio de construção e entrega de novas escolas (técnicas ou não), universidades, hospitais, moradias. Se existem as escolas, a educação não é de qualidade, acesso a saúde com qualidade está difícil até para quem paga, e caro, um convênio médico.
A inflação se está nos baixos níveis anunciados ainda assim supera os reajustes salariais que na maioria dos casos nem são respeitados, nossa categoria está entre as quais não vêem tais reposições há anos.
Casa própria?
Não é para qualquer um, empenhar parte de seu ganho para arcar com os planos de financiamento oferecidos, nem em sonho.
Este é o ponto, moradia.
Não sou adepto do assistencialismo, mas convenhamos não dá para virar as costas e fechar os olhos para certas situações que agridem nossa sensibilidade ante a falta da dignidade humana, tendo em vista o grande número de sem teto que “habitam” essa cidade.
É difícil manter a indiferença diante do que salta aos nossos olhos, corpos enrolados em papelão buscando abrigo do frio cortante sob as marquises de edifícios, alguns empresariais, dos quais sediam instituições financeiras, paradoxalmente expondo como vivem em condições de extrema miséria muitos cidadãos que por um motivo ou outro se encontram em situação tão deplorável.
Independente dos caminhos que levaram essas pessoas a essa situação, merecem assistência, sobretudo dos órgãos “competentes” que sabemos existem para isso. Tal assistência não pode se limitar apenas ao recolhimento noturno, isso quando se dá, mas sim fornecer àqueles que queiram assistência adequada, assistência no verdadeiro sentido da palavra, a fim de resgatar o mínimo da auto-estima e dignidade perdida que são próprias para a sobrevivência do ser humano.
Quanto ao crescimento econômico que tanto se exalta, quanto a superação da crise mundial, a tal “marolinha” que ainda assombra o mundo, até quando a miséria de uns irá financiar o suposto equilíbrio em que se encontra nosso país?
Que não dure até todas as marquises desta cidade forem tomadas como refúgio noturno por aqueles que não conseguiram superar suas “marolinhas” pessoais.
Publicado no Blog "Os Municipais" em 09 de julho de 2010.