Chegamos de novo à época em que o “civismo” aflora em todo cidadão brasileiro. Num período quadrienal a simples lembrança do Hino Nacional faz nos sentir arrepios por todo o ser, erigir o corpo em respeito, erguer a cabeça e até levar a mão ao peito numa demonstração de patriotismo, ausente por quatro anos, ou se presente, não com a mesma volúpia.
Tornamos-nos “guerreiros” credenciados e entusiasmados pela mídia, nos deixamos levar, de novo, como fomos invocados há oito anos pela música que era sucesso do momento, mas que não se fazia necessário, pois sempre que se aproxima esse evento nos deixamos levar pela paixão primeira, naturalmente.
Cada um de nós veste a camisa e de coração se coloca, ou melhor, se convoca e se escala. Até mesmo aquele que durante quatro anos sequer sabe dizer quais são as cores que veste nosso esquadrão se entrega a paixão, expectativa, tensão, entusiasmo, crença de que tudo será melhor após a vislumbrada conquista.
Doce ilusão, pois tudo será como antes, mesmo assim é válida nossa alegria, não sejamos hipócritas, todos nos beneficiamos desse contágio nacional, do mais abastado ao menos favorecido, do mais culto ao não alfabetizado. Homens, mulheres, crianças, todos envolvidos, tornamo-nos um. Seria bom termos esse sentimento de civismo exacerbado sempre, amor à nossa pátria.
Isso não ocorre com freqüência. Embora muitas vezes possa parecer que a máxima da música se faça valer a todo instante, deixamos a vida nos levar mesmo quando não solicitado.
No entanto, eu de minha parte vou torcer como sempre e aproveitar esse momento em que nos faremos felizes na ilusão, pois: “Nem só de pão vive o homem”.
Mesmo sabendo que as agruras do dia a dia estarão camufladas, aguardando o encerrar de nossa pausa e, pior ainda, trazendo o risco de nosso sonho tornar-se pesadelo, caso isso aconteça, que venha 2014.
Publicado no Blog "Os Municipais" em 11 de junho de 2010.